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Lençois Maranhenses em destaque na Revista Viagem e Turismo

Local:
  Reportagem Revista Viagem e Turismo mes 02/2003

Data / Horário:  07/02/2003 -

Maranhão

Lençóis
Doce mistério

Por Cristina Ramalho- Fotos: Christian Knepper
Fevereiro de 2003 - Edição 88

Lençóis, um deserto equatorial cheio de lagoas, comove. As histórias de seus habitantes também

Tudo o que vinha do mar ia parar, de um jeito ou de outro, nas mãos do velho Antônio Ladeira, pescador que morava às margens do Rio Negro, quase na entrada do Parque dos Lençóis. Ladeira guardava bóias, pedaços de corda, chinelos... E tudo mais que aparecesse na praia. O que não servia para ele era vendido aos vizinhos. Até a família veio do mar: Ladeira achou um enorme pedaço de isopor, nele esculpiu dois bonecos e passou a tratá-los como filhos. Ralhava com eles, dava-lhes comida, contava-lhes histórias. Os pescadores locais entraram na onda: brincavam e davam roupas aos 'filhos' de Ladeira. Virou quase uma tradição. Se você ouvir essa história de um dos guias de Lençóis, vai ficar encantado.

Por que Ladeira acreditava nos filhos de isopor, ninguém jamais soube. Ele morreu há alguns anos e esse é só mais um dos mistérios que correm de boca em boca pelos Lençóis Maranhenses, uma versão equatorial e igualmente deslumbrante daqueles desertões que a gente tanto viu no cinema. Assim como o Saara nas telas, esse enorme pedaço de areia no Nordeste do Brasil (são 150 mil hectares) tem inúmeras histórias sopradas pelo vento. Tem também nômades - não exatamente Lawrences da Arábia, mas sim pescadores que moram, durante seis meses por ano, em choupanas nas areias de Vassouras. Há até uma certa Jade nesse fascinante clone chamado Maranhão. É a Jarde (assim, com um erre no meio), professora das crianças que vivem no areal de Queimada dos Britos. Ainda que você não engate conversa nenhuma com os moradores de Lençóis, provavelmente sentirá um je-ne-sais-quoi de mistério no ar. Depois de sacolejar uma hora no jipe que parte de Barreirinhas, cidade que é a porta de entrada para o Parque Estadual dos Lençóis, e escalar ofegante uma duna quase vertical para chegar até lá, você vai esquecer da vida e finalmente entender por que o deserto faz rodar qualquer cabeça.

As areias claras, fofas, em cadeias sucessivas, parecem não ter fim. Quando o sol brilha, sua luz se reflete na superfície, criando paisagens que parecem feitas de purpurina. Quando chove, então, aí a natureza desatina, formando lagoas em tantos tons de azul que é impossível não se sentir enfeitiçado. A vastidão encoraja experiências místicas; o silêncio de catedral emociona; o céu de soneto aperta o coração da gente. Não é à toa que tanta lenda brota dessa terra. Em nome de todo esse deslumbre, releve eventuais desconfortos que possam surgir até você chegar aos Lençóis. A cidade mais próxima do parque, Barreirinhas (a 350 quilômetros de São Luís), de onde partem jipes para as trilhas que levam às dunas e barcos percorrendo o garboso Rio Preguiças, está crescendo - mas não comporta resorts ou diversões eletrônicas. Pouquíssimas pousadas exibem alguns confortos modernos, como ar-condicionado, TV e frigobar. A ex-governadora do estado Roseana Sarney prepara outra, na beira do rio, com mordomias dignas de casa de verão de uma família real.

Antes que a moda se espalhe (está prevista a construção de dois flats enormes à beira do Preguiças), corra para aproveitar o charme rústico e divertidamente cafona de Barreirinhas. A cidadezinha está naquela fase de ex-povoado que se desdobra a cada dia para abrigar mais turistas. Há vários restaurantes com pratos de peixes e frutos do mar, claro, mas já tem até café dinamarquês que serve torta de chocolate, serviço de táxi e lojas de souvenir. Só que ainda não perdeu aquela graça ingênua em detalhes como o slogan da Funerária Popular: 'Nossa igualdade sem fronteiras'.

Garotinhos marotos distribuem cartões que oferecem passeios para as lagoas mais procuradas. Pode ser de jipe, carros jardineira, catamarãs ou nas voadeiras, lanchinhas afiadas que correm bem no rio. Quase todos os visitantes seguem os programas imperdíveis: Lagoa Bonita (acesso por uma duna quase vertical, não recomendada a cardíacos); Lagoa Azul (linda!); Lagoa do Peixe (cercada por dunas muuuito altas, em cujo topo o pessoal se acomoda para ver o pôr-do-sol); o passeio até Caburé (um povoado que fica entre o Rio Preguiças e o mar). Reserve uns quatro dias e veja tudo.

 


  
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